Conto: Júlio, o rapaz desconfiado

Júlio era muito calmo e calado, desconfiando de tudo e de todos. Ele trabalhava em um jornal, do qual recebia o suficiente para se manter. As pessoas que conviviam com ele nada sabiam sobre sua vida, mas mesmo assim, acostumaram-se com aquele vizinho tão solitário.

Todos comentavam que ele era do interior, o décimo filho de uma família pobre, que ao ser perseguido, fugiu de sua cidade. O motivo seria pelo fato de o rapaz ter iniciado um namoro com a filha de um coronel que não aceitava o relacionamento. Um outro comentário seria pelo fato de que ele teria praticado algo de errado e que por isso estava fugindo; isso explicaria seu comportamento de desconfiança.

Após três anos, Júlio, como era conhecido, começava a fazer amizades no bairro e no trabalho. De vez em quando, falava sobre o que sentia e o que acontecia no seu cotidiano e sobre sua família. Por ser desconfiado, ele insistia em viver na solidão; um mundo solitário em que personificava um sentimento de tristeza e um elo com algo que tocava-lhe a alma numa ansiedade de dor e tormento.

Ao caminhar pelas longas ruas da cidade quando ia e vinha do trabalho, recebia o cumprimento de belas mulheres, mas apenas uma fascinava seu coração, olhava-a com esplendor no encanto. Ele, em seu mundo solitário, não acreditava ver e ter aquela deusa em sua vida, e continuava negando-se a felicidade.

Certo dia, ao chegar no trabalho, foi notificado de que o chefe queria conversar com ele e que seria uma novidade. Júlio pensou que seria demitido; pensamento alimentado por seu jeito de ser, mas o chefe comunicou-lhe que se tratava de uma boa notícia: o rapaz assumiria a direção do jornal localizado em outro bairro e seria contratada mais uma pessoa para auxiliá-lo.

Júlio brilhava de felicidade e alegria com a sua promoção, um acontecimento que mudaria, a partir daquele momento, seu jeito tão desconfiado de viver. Ele estava motivado e autônomo em sua vida tão misteriosa e solitária.

No dia marcado para assumir a nova função e conhecer seus novos colegas, algo bom tocou-lhe a alma, uma felicidade inexplicável que se expandiu pelo corpo e chegou ao coração, sendo sentida na essência. Ao ouvir alguém chamando seu nome, ele olhou de repente e se deparou com uma beleza cuja definição fugia de suas palavras.

Ele tentou decifrar tanta beleza, mas depois desistiu e apenas observou; uma formosura deslumbrante que não imaginava nem em seus sonhos mais profundos, uma elegância que despertou-lhe o amor no coração e fez brilhar incansavelmente os olhos.

 A MOÇA

A moça se aproxima, cumprimenta a todos e se apresenta. Júlio fica encantado e cada palavra que saía da boca dela era música para seu coração apaixonado, que por mais que tentasse disfarçar, evidenciava sua admiração por ela. Aquele momento passou e, no final do expediente, todos foram embora.

No dia seguinte, Júlio foi o primeiro a chegar ao trabalho. Adiantou quase tudo para que pudesse oferecer ajuda à moça, ele já até tinha ensaiado um motivo para a aproximação. Os colegas que iam chegando estranhavam vê-lo ali, pois ele tinha chegado antes do horário.

Quando ela surge no horizonte de Júlio, um sorriso de felicidade é invocado por sua alma, amado por seu coração e expresso por seus lábios. Ele não conseguia disfarçar, estava feliz com a felicidade de quem se ama. Todos perceberam.

Júlio fazia de tudo para ficar ao seu lado, a todo momento se oferecia para ajudar, e ela, educadamente, agradecia e fazia-lhe elogios. Meses se passaram e, aos poucos, ela parecia corresponder aos sentimentos de Júlio, chegando até a convidá-lo a sair nos finais de semana com os amigos, mas Júlio sempre recusava, pois queria um momento somente com eles dois.

Depois de mais um convite da moça, ele aceitou sair com ela e os amigos, pois não aguentava mais esperar por um momento a sós, que parecia não ter chances de acontecer, já que ela sempre tinha desculpas para não sair apenas com ele.

Chega o dia tão desejado por Júlio, o dia de estar ao lado de sua deusa, cuja beleza fascinava sua razão de viver e irrigava seu coração de amor no mais elevado esplendor. Um sentimento belo que o fazia sonhar acordado, viajar na sublime felicidade e despertava a esperança da união entre eles.

Ao chegar na casa dela, ele vê várias moças, mas uma em especial não largava a mão de sua deusa. Ele observa por um tempo e resolve se aproximar para irem juntos ao baile. Para ele, aquele era o dia, o dia da felicidade plena, pois seria o dia que pediria a moça em namoro.

No baile, dançaram, beberam juntos e conversaram. Chega o momento da atitude de Júlio, era o momento de ele se declarar para a moça. Ele a chama e diz que precisa falar de algo que está em seu coração, algo muito importante. A moça diz que também tem algo para falar. Júlio começa a chorar, acreditando ser um amor correspondido. Então, pede para a moça falar, e ela começa: diz que ele tinha sido escolhido, pois sentia uma grande admiração e completou que seria uma honra tê-lo como um dos padrinhos do seu casamento.

Manoel Messias (Rimas

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